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Inanição Intelectual

Pessoas que leem muito pouco evoluem pouco na carreira e na vida. Uma coisa está diretamente ligada à outra. Sem conhecimento, as pessoas não brilham.
Gaston é um homem bonito que atrai quase todas as garotas de sua aldeia. Apenas uma não se sente fascinada por ele: Bela, que vê muito além das aparências. Bela vive a procura de algo maior e acredita que "deve existir algo além do que uma vida sem emoção". Nesta aventura ela descobre os livros. Desde que assisti ao musical comecei a fazer uma sondagem nas platéias das palestras e convenções de aprendizado que participo. A primeira pergunta que lanço é muito subjetiva: quem tem o hábito de ler com frequência? Sem o compromisso da precisão matemática, posso afirmar que menos de um quarto da platéia levanta a mão.
Começo, então, a dialogar com aqueles que levantaram a mão. A grande maioria, que diz ter o hábito da leitura, lê com frequência jornais e revistas. São poucos os que leem livros. Indo mais a fundo no questionamento, dirijo a pergunta para aqueles que disseram que leem livros. A pergunta desta vez é: vocês leem muitos livros? Em platéias com mais de 200 pessoas pode-se contar nos dedos quantos são aqueles que dizem sim. Mas, o questionamento derradeiro ainda está por vir: o que são muitos livros? Quantos livros são lidos em um ano?
A resposta é surpreendente: quem lê muito, lê entre quatro a oito livros por ano! Pare para pensar e faça você também a estatística com as pessoas que você convive. São leitores contumazes ou engrossam as estatísticas da inanição intelectual? Para alguns, os livros não passam de objetos de decoração e se prestam para "dar peso ao ambiente". Nesse processo de coisificação do livro, pouco importa o conteúdo: os livros são adquiridos por metro e a seleção se dá pela capa e pela lombada; quanto maior e mais colorido, melhor. A aparência de velhos e manuseados reforçam a idéia de cultura sólida e conhecimento de berço.
Pessoas inanimadas leem muito pouco e, portanto, evoluem pouco na carreira e na vida. Uma coisa está diretamente ligada à outra. Sem conhecimento, as pessoas não brilham. Apagadas, passam a vida nas trevas sem serem percebidas. Um profissional que não lê é um profissional que limita seu conhecimento sistêmico e, consequentemente, tem poucas perspectivas.
Outras pessoas, porém, consideram os livros "alimentos para o cérebro". Da mesma forma que um veículo, para se movimentar precisa de combustível, nosso corpo, para se manter ativo precisa de alimento; a nossa mente, por sua vez, para se manter atualizada, precisa de conhecimento. Os livros cumprem este papel como boa alternativa de informação e pesquisa. Uma pessoa que lê é uma fonte inesgotável de criatividade, pois quando a informação se transforma em conhecimento, a visão do todo se amplia. Ler um livro é como escalar uma montanha, subir no topo e dali ver o mundo de um novo ângulo, um ângulo superior e sistêmico.
A leitura de livros tem um custo-benefício extremamente vantajoso. Não é preciso empatar muito tempo, e tampouco muito capital, em algo que pode se transformar em um importante diferencial, capaz de impulsionar o sucesso em qualquer carreira. A leitura areja a mente, nutre as idéias e faz brotar o talento de cada um. Se realmente somos os nossos conhecimentos, a informação que ingerimos molda nossa personalidade e contribui na formulação de nossas idéias. Aquilo que escolhemos para ler e o que resolvemos deixar de lado, são, portanto, decisões críticas que tomamos. Qual a utilidade dos detalhes dolorosos de um crime? E a roupa usada por um artista famoso? E a briga entre torcidas após um clássico de futebol? O excesso de informações inúteis funciona como um hipnotismo que aciona o piloto automático e faz com que a pessoa viva na repetição, adormecida e com baixo senso crítico. O lixo cultural invadiu nossa vida e a informação útil compete em desvantagem com a poluição mental, assim tudo que absorvemos torna-se parte de nós. Assim, quem está em evolução constante está a cada dia ampliando seu próprio dicionário de mundo.
O mal da humanidade tem nome: inanição intelectual, ou se preferir, simplismente ignorância. O tempo é você que faz. Invente um futuro cheio de possibilidades. Vá além de apenas ler bons livros. Comece degustando, depois saborei, e por fim devore-os. E bom apetite!
Por Sílvio Bugelli